Ontem, conheci alguns sonetos da poetisa portuguesa Florbela Espanca (1894-1930). Fiquei tocada pela intensidade com que ela expressa o sentimento de desorientação no mundo. Segue o poema que, na minha opinião, sintetiza de maneira mais completa a alma (atormentada) dessa mulher.
EuEu sou a que no mundo anda perdida,Eu sou a que na vida não tem norte,Sou a irmã do Sonho, e desta sorteSou a crucificada... a dolorida...Sombra de névoa tênue e esvaecida,E que o destino amargo, triste e forte,Impele brutalmente para a morte!Alma de luto sempre incompreendida!...Sou aquela que passa e ninguém vê...Sou a que chamam de triste sem o ser...Sou a que chora sem saber porquê...Sou talvez a visão que Alguém sonhou,Alguém que veio ao mundo para me verE que nunca na vida me encontrou!